Desligarei para sempre
o interruptor
e não interromperei
o da memória.
Na bagagem,
incontáveis cadernos
pirações manuscritos
retratos cartas
bilhetes
sonhos cicatrizados
Última mirada sem aceno
em todas as celas que estive
e cenas que vivi:
o barril de óleo cheio de água e urina
onde éramos afogados
uma rima tola que me trouxe alegria
um rumo qualquer onde foi resistindo
o rosto de Stuart
a cara do carrasco
o pau-de-arara no chão
o momento em que pensei
que eles tinham me capado
os outros de pavor, de morrer
árvores pressentidas no vento
gritos ritos papos
Farpas de tudo
rasgando o nada
lembrança, ócio, tédio
imagem de milhares de pesadelos
flutuando entre grades de quartel
pêndulos engasgados de tempo e saliva
cadelas no cio que latiam ao longe
Cigarras que ciciavam por perto
sentimentos que rastejavam entre botas
vozes que eu ouvia
chuva que nunca me tocava o corpo
porque o banho
era só de sol
e solidão.