É tão bonito ver o amanhecer lá fora
quando não há postigos nas janelas
e os verdugos estão dormindo bêbados
ao redor da forca
É tão bonito ouvir o canto dos pássaros
quando eles abafam os passos das sentinelas
é tão livre andar em torno da cela
depois de sorver a mesma sopa de sabor indefinido
é tão bom continuar pensando nela
mesmo sem saber hoje com quem ela se deita
é tão importante acender a vela
e escondido, ler o livro que for possível.
Quantos prisioneiros
há tantos séculos
inventam o sentido
em pequenos objetos
que o regulamento permite.
Quantos de nós, prisioneiros, imersos no mesmo lamento
morrem, mentem, resistem,
nas verdades que a posteridade
não transmite.