Fantasia de Quem Não Teve Tempo (À Nova LSN)
Caminhar pelo calçadão da praia
desarmado
poder usar o próprio nome
no cartão de identidade,
nenhuma clandestinidade
no corpo e nos movimentos,
nenhuma nuvem nos olhos.
Não olhar com suspeita
para o senhor de terno
não temer que os outros
vejam a arma na cintura
não tremer de ternura
quando o velho amigo o reconhece
e você finge que não vê.
Enfim, parar no bar
como nos velhos tempos
encontrar pessoas
em vez de cobrir pontos
parar em casa
em vez de furar cercos
discutir nas praças
em vez de pichar muros
andar de ônibus
em vez de puxar carros
olhar pelas janelas
paisagens, em vez de paranoias
amar sereno
sem que o prazer seja uma perda
conhecer gente nova
que existe fora de nossas seitas,
com elas beber milk-shake de canudinho
no lugar de cianureto.