Exílio 1
para Angelita Silva
A casa está habitada pelo hálito
sexual destas paredes alvas
pela sombra
da mulher ruiva
o sangue amordaçado
Nas entre-palavras ávidas (brechas
abertas nas veias para quando) escrevo
(escuto) as minhas quedas, ouço-me
num estilhaçar de ecos
secos
em vitrais traindo-me
Olho-me
como num bar de exílio aos sábados
a lepra dos espelhos devorando restos
dum copo de mim sabendo a vício
solitário
Mas
— mistério adunco —
murmúrios lúdicos atravessando as frestas
crescem no tempo
e o tempo
cria um tempo-templo com o meu nome: Lume
para lágrimas
Amemo-nos neste instante, minha alma
neste corpo. Chama-me
neste nome
que não conheço mas adoro
ardoro
Comentário do pesquisador
A referência ao Exílio, já no primeiro verso, recorre a um tema fundamental dos Anos de Chumbo. Essa mesma questão vai se desdobrando ao longo do texto, abrindo campos para a presença da "sombra" e de nuances como o "sangue amordaçado".