ESTUDOS SOBRE O MEDO II
1.
Com tantas sirenes interiores,
o medo preside
a central de todos os alarmes.
Antes que o perigo
estenda ao sol
seu bosque de sabres,
os caminhos do homem
já estão cercados pelo medo.
Antes que o urânio
se transformem adeus,
aqueles que o conhecem,
de uma forma ou de outra,
deverão ter partido.
2.
O começo do medo
esse olhar demorado
sobre o que não suspeitávamos possuir.
O começo do medo
é esse lento despedir-se,
esse mudo despedir-se, de uma dor
só agora reconhecida
menor do que a outra
que virá,
que com toda a certeza virá.
3.
Falta uma estátua para o Medo:
dois olhos apenas
perscrutando o vazio.
Detector de minas, torre de radar,
raio ultravioleta, que mais?
Graças a ele, vossos homens
Regressam e tomam
Sua sopa noturna.
Graças a ele, as pupilas
dilatam-se e veem
o que falta na vida:
Falta uma estátua para o Medo.
4.
Pelo temor de Deus,
sempre suportávamos
o edital áspero das cortes.
Por causa dele, obedecíamos
tantas ordens fatais.
Sem grandes esperneios, íamos
insones deitar,
para que os adultos
fechassem seus negócios
ou trepassem em paz.
O temor de Deus acabou
quando o calibre das armas
um dia dispensou
o colorido discurso
do paraíso sem fim.