ESTREITA CELA
(in Esperançário da Liberdade)
Ah, que tranqüilidade
dormir na estreita cela
sem porta, sem janela,
e a proteção da grade.
Ah, dias tão bonitos
fazem lembrar os campos,
a luz dos pirilampos,
e os lépidos mosquitos.
E sonhos infernais
no azul da noite temos;
mas logo percebemos
que as cenas são reais.
E nestas, salvo engano,
um quadro outro sucede:
é a sensação de sede,
é o apetite insano.
(Há um velho mau decrépito),
é a quebra do orgulho,
é no tanque um mergulho,
é o estilete no septo.
É dos punhos o toque
para aclarar a mente;
a sugestão consciente,
a sauna e o eletrochoque.
É o voo de uma ave rara
com rosto encapuzado;
é o grito, é o berro, é o brado
que dá no pau-de-arara
E o espírito suporta
gozar tanta ventura;
que a pobre criatura
ou desfaleceu ou é morta.
Na estreita cela fico
cismando só (e Deus):
quando será que o rico
terá o reino dos céus?…
Fabiani Cunha
(I.P. Paulo Serasate - Fortaleza)