ESTÊRCO
Faz um silêncio bom. Mas o relógio
finge que mede o tempo, e o tempo voa
de entre os seus dedos ásperos. Refoge o
tempo e aqui está: oceano, não se escoa:
é, e tem-nos no seio mergulhados.
Nós não nos temos, vítimas inermes
de invisíveis marés; e, despojados,
o tempo nos esmaga como vermes.
Vivemos para os pósteros, vivemos
para os que encontrarão do tempo os portos.
Somos o pântano em que crisantemos
pompearão — quando estivermos mortos.
E é nossa glória irmos virando estêrco
enquanto a grande noite aperta o cêrco.