Outrora eu te escrevia oásis
Raso fosso de vozes
entre parênteses
(eu-tu)
tu) (eu
nós palavras
de febre e areia
ex-caldo
do vosso ventre
fruto
frustro num X
pendente:
ISTO É O MEU CORPO
delito
escrito e escarrado
parido
da mão solitária
Mister-mistério (o acaso) eu te escrevia
transcrevia
do princípio ao fim o avesso nome
alpha de alar
phalar
e te seguir
as'ir
seta perdida
atrás do alvo (negro eu) Céu cego-vazio
Ou
outra escrita-pista para o pouso
(ânsia no vôo
em vão
no ar senil)
ousava
usava falaz-faminto
o louco lábio
errava
E ilhas não há
senão álibis sibilinos sub-líneos
Uns pássaros sujos
as'peados
Hoje te desescrevo
libidinoso grito: Cavo o silêncio
e enterro os ossos
órficos
(e este vício)
no poente
ó asa
as
a
Comentário do pesquisador
A temática fúnebre do poema "O Enterro dos Ossos" se alinha a questões dos Anos de Chumbo, quando o assassinato político era recorrente. A dificuldade de falar no assunto, ou a necessidade vista em "Cavo o silêncio" também parece alinhada a questões como a Censura (a proibição de falar) e a Lei da Anistia (a proibição de revisitar e rediscutir os crimes cometidos contra os ossos enterrados). A temática econômica da fome também se faz presente, ainda que na sutil expressão "falaz-faminto".