Enquanto não é Tempo
Roucamente.
(Como brotar bucólicos regatos,
se o rataplã frenético toma de assalto o ouvido?)
Roucamente.
(Tecer faces de lírios e de rosas
para os estilhaços das bombas?)
Roucamente.
Há, é verdade, uma torre,
antípoda de Babel,
onde tudo é asséptico
e à prova de som.
Mas os regatos que ali correm
e os lírios e as rosas que ali florescem
não têm murmúrios, não têm seiva,
são nuvens fantasmagóricas.
Os inquilinos morrem lívidos
de anemia e medo.
Cá fora há um futuro no ovo
rompendo a casca,
e há lutas de ódio-amor
nas vivas marés do sangue.
Roucamente. Roucamente
enquanto não é tempo de Homem.