EM BUSCA DO OURO
cobra que come cobra come-se
(por dentro e por fora)
como duas mãos que por debaixo da capa
puxa todas as veias
até berrar todos os sinos mudos
cobra que come cobra come-se
(por dentro e por fora)
rosa de ventres ternura de estômagos
arrepio de sirenas
debaixo das marquises onde uma flor
incha dentro de um botão
de fogo
cobra que come cobra come-se
(por dentro e por fora)
entre febris e peladas alegorias intermitentes
alamedas de pavio cordões de chumbo
cirandas de epidemias galopes e goles
a golpes de cruzes
ventos de rédeas e esporas
cavalos de incêndio na blitz dos olhos
cobra que come cobra come-se
(por dentro e por fora)
enroscadas num pedaço de ódio
enquanto as tripas secas e luzentas são
ponteiros do relógio cardíaco do sol
que ilumina a terra de vera e santânica cruz
cobra que come cobra come-se
(por dentro e por fora)
de mão dadas como o bálsamo e a chaga
enquanto cava-se trapézios num arco-íris de fome
cava-se garras no espaço do medo
cava-se pregões revolucionários
nas abarrotadas feiras de silêncio