DOS TRIBUTOS
I. Walmor Marcellino, preferes
tua sentença por degredo
exposta em todos os portais,
a rufo de tambores e berrante,
ou sob silêncio requeres
exação da pena em segredo?
Assim, esta pena infamante
se cumprirá sem editais.
II. Ao mesmo tempo, porém,
é uma clemência real
que se outorga a quem
nasceu de nada especial
e nada por si fez também.
Apenas agitou seus conflitos
de origem e formação adictos,
procurando por visto e dado
fazer-se maior do que pode.
III.Ficou provado e comprovado
que à instigação se acode
e por ela se socorre
para destruir nossa ordem.
Por isso a pena é devida
mas se lhe concede a graça
de reintegrar-se em vida,
contrito servidor e praça
das nossas instituições.
IV.Este Tribunal de relações
das classes, ordens e ofícios
— invisível às instituições —
manda e exige cumprir mandado
até que se confesse culpado.
Até que se dê por cumprido,
e o réu, vero arrependido;
até que de tudo seja remido.
V. Esta pena que se lhe impõe
não é apenas por rebeldias
e as mudanças que propõe;
nem tanto por ser culpado
de conspirações e porfias,
mas para vê-lo enfim curvado,
como homem sempre domado
em apesar do orgulho.
Seja o homem domesticado
mesmo sofrendo esbulho.
Para que lhe dobre o joelho
ainda a pelourinho e relho.
Para que homem se faça
segundo o modelo da massa.