DOMINGO se não chover
verei a ave de olhos inesgotáveis
pousar seu corpo no meu.
Vezes incontáveis configurei
as partes e o conjunto. A boca
ávidos trançamos em beijos.
Quando recordo, a noite
se faz imensa com o rio
me invadindo de nostalgia.
Então ouço companheiros
em sonhos de lamentação.
Domingo, salvo imprevisto,
enlaçarei em lábios vertentes
meu recado mudo e concreto
com os cinco sentidos sentirei
a presença lasciva da primavera
ao entrelaçarmos os braços
no toque libente
de polos que se atraem.
Tudo quieto por aqui
só a melancolia da paciência
ao contemplar os clarões
que da fábrica se espalham na água
e umedecem meus olhos de tristeza.
Domingo se você quiser
seremos dois e um e mais
como somos muitos agora.