DESVIO
Há uma terra condenada,
quase virgem ainda,
onde os frutos são para todos.
E caminhamos e vivemos
e nos arrastamos e sobrevivemos
num árido deserto podre
cheio de areias movediças!
Aqui, no deserto,
até os edifícios são construídos
depois de vendidos.
E as portas estão fechadas,
mas são de vidro.
Aqui, as janelas têm grades
e as paisagens estão limitadas.
Para os pássaros que querem viver cantando,
sutis mordaças.
E declaradas também.
Aqui, o papel
só aceita uma lógica
e os papéis são representados
por ultrapassados atores.
Aqui, as concessões
são coleiras que enforcam...
Aqui,
contra os bons,
defesa dos bens,
os maus se enquistam!
Aqui,
cartilha esquecida,
veneno absorvido,
feixe desatado,
os puros combatem os puros
pelo privilégio da pureza,
os livres combatem os que se dizem mais livres...
E a terra livre,
dádiva esperada,
aguarda corrente de mãos,
apoio de ombros,
para ser conquistada!
(1965)