Depois de um Pernoite
Segunda-Feira
o alarme toca
eu sozinho
puto da vida
entre um domingo
e uma quarta-feira
entre um instinto
e uma questão de ética
entre uma palavra de amor
e uma declaração de princípios.
Segunda-feira
e eu mais preso que nunca
entre a emoção mais pura
e uma questão de técnica
entre uma curva e uma reta
nestas tardes indolentes
não poupo a preguiça
própria destes tempos de transição.
Como meus biscoitos
às 14 hrs. indefectivelmente
esmago baratas
ao invés de inimigos
dou bis nos coitos
sempre que ela quer
chupo sou chupado
lambo sou lambido
gozo sou gozado
suo sou surrado
durmo e a noite me veste
acordo sem que nada me reste
verto uma urina que já não espuma
de raiva
sacudo o pau apenas três vezes
para não perder o hábito
e pegar fama de punheteiro
Segunda feira
sigo a perambular no pátio
e te ouço nas sombras
da cama desfeita
nas dobras do lençol
por mim lavados com alfazema
nos bosques de orvalho seminal
entrevistos em velas azuis
vigílias adornadas em ventres
no meu afã de me vestir vadio
cruzar meus vilarejos interiores
com sapatos de cinza
adiando os desejos
para o próximo pavimento
aferindo corpos
afugentando rótulos
dando provimento aos sentidos
sustando carícias
aderindo à norma fictícia
de fazer caber paixão
dentro de tantos limites.
Segunda-feira
eu me levanto
escovo os dentes
escavo as lembranças
vidro sem memória do espelho
espalho meu espanto
na ausência de imagens
mato moscas
espero o dia escorrer.