Das mãos estendidas

Maciel de Aguiar

   DAS MÃOS ESTENDIDAS

  


Estendo as mãos de aprendiz 

para os que tateiam seu rumo, 

os que constroem o destino, 

os que cultivam a esperança, 

os que alimentam as convicções, 

os que choram os mortos, 

os que acreditam em suas causas. 

Estendo as mãos infantes
aos que se agarram à aventura, 

os que tentam saltar os obstáculos, 

os que encontram a desgraça,
os que imploram diante dos algozes, 

os que afagam as cicatrizes,
os que acalentam a tragédia. 

Estendo as mãos trêmulas
aos que pegam nas armas, 

os que abrem o peito,
os que não se intimidam,
os que conversam com o próprio cadáver,
os que sabem de sua sentença,
os que convivem com os demônios.
Estendo as mãos aflitas
para os que são banidos,
os que levam para o exílio 

um arco e uma flecha,
os que não mais semeiam sonhos,
os que carregam uma cruz,
os que choram as saudades,
os que perderam o caminho de volta. 

Estendo as mãos de afago
aos que desfraldam bandeiras, 

os que se agarram aos segredos, 

os que defendem princípios, 

os que cravam as unhas 

na possibilidade da vitória, 

os que reconstroem do nada 

a história de lutas, 

os que acreditam num tempo 

novo que há de vir. 

Estendo as mãos notívagas 

do ofício da poesia 

impressa no mimeógrafo 

aos que sepultam os mortos 

encontrados na calçada,
os que enfrentam os assassinos 

com bolinhas de gude,
os que vomitam as entranhas

sob porrada nos testículos, 

os que procuram os filhos 

desaparecidos nas trevas, 

os que deixam marcas 

tatuadas nos cárceres, 

os que resistem ao destino 

na Pátria sem fugir, 

arriscando a todo instante 

a vida de suplício. 

Estendo as mãos de poeta, 

que escreve pelo breu 

esta canção panfletária,
aos que buscam a Liberdade. 

Estendo a consciência do tempo 

em que vivemos clandestinos 

como um afago à dor 

para todos os condenados. 

Estendo as mãos do hoje 

aos mortos do amanhã… 


                     Rio de Janeiro, 19.2.72

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