CONVOCAÇÃO
Eu poderia agora mesmo
guardar a voz, fechar a boca
e sepultar meus instrumentos
de canto, no vale defronte.
Pois todos os rios que rosnam
lá embaixo, cavando as pedras,
terão outra ingênua garganta
para cantá-los algum dia.
Amo, no entanto, o que nasceu
Do medo, este silenciar
Do medo, esta forma soberba
De conquistar uma cidade.
Se no desejo de cantar,
gaguejei na sala de vidro
a minha pedra, é só porque
errei de sala, simplesmente.
Errei de tempo, errei de vítima,
entre as ofélias que enterrei.
errei o caminho, o endereço,
mas o recado não errei.