clausura
[para Joaquim Vicente Prata Cunha]
Nasci. Haveria de estar
preparado para a vida, mas
continuo na sala de espera.
Quem abrirá esta porta?
Que continente ou que
cidade se descortina
além da laje de meus olhos?
Sugestões me fascinam
mas a visão ceifada
não alcança outra margem.
A mão trêmula se
confunde, e torna baixa
a um beijo, um chamado
de estreita possibilidade.
Estamos prestes a marchar
mas o inimigo é escasso
e destrói nossos anseios.
De novo uma tentativa, outra
e outras tantas,
que o presente absorve o ódio,
o orgulho, o afago:
O tempo é de conformação.
No escuro formulamos
a sentença e o sorriso
que haverão de romper
o medo. Projetamos
nossas forças e arrepios
além das graves paredes.
Gastamos fardos de sonhos,
trigo e confissões:
Engravidamos a mente,
no escuro nos preparamos.
Mas ao primeiro lampejo
das matizes da manhã,
de novo nos corrompemos
e voa nossa esplanada
e nossa razão premente
em forma de anel extinto.
Perguntamos:
Até quando?
RIO, 1964.