Cidade maravilhosa

Armando Freitas Filho

    Cidade Maravilhosa

 

 

A cidade se abre como um jornal:

 

   flash flã flagrante

 

  na folha que o vento leva

  no grito impresso que voa

  na voz

  com a manchete:

 

  LUTE NO AR

 

No ar

  ou no exíguo espaço

  que nos resta

  no chão

das casas

das caixas de morar

nos ônibus superlotados

nos estádios cheios

o homem que

—— todo o dia ——

veste a camisa da estrela solitária

e desaparece

—— para sempre ——

luta

contra o esquecimento.

 

Como um jornal que escreve

em cada página

a crise e o crime de toda hora

como um jornal que embrulha

o que

 diariamente

esquecemos

 como um jornal

como os espelhos perplexos

do Parque de Diversões

se fazem os quadros em flagrante

de Gerchman.

 

Ali estão todos

  estamos nós

em pré-estréia

  a sós

na beira do mundo

com todas as nossas caras:

a miss   o kiss elétrico

o kitsch       o clichê

o beijo borrado de Monalou

me alcança

  no banco de trás

a Moreninha

  me enlaça

na janela furta-cor

que pisca,

  por de trás da paramount

o amor se acende:

  Boa Noite

Lindonéia.

 

Ali estão todos

na primeira página quebrada

dos espelhos:

aqui, perdido, me acho

em cada qual

me vejo

na multidão espatifada.

 

Ali encontro a linha

o começo do desenho

o rascunho do meu corpo

de carvão

superposto

na paisagem amarrotada

da cidade.

 

Aqui estão os rótulos

rasgados do meu rosto

as máscaras

  as marcas

as letras do meu nome

com todos os erres

com todos os erros

em garranchos

pichados no cimento

nos cartazes

e nas caligrafias de néon:

 

    Motel de Mel Não Há Vagas

    Os Desaparecidos

   Homens Trabalhando

 

    Na frente de todos

   O Rei do Mau Gosto

usa o seu rosto

 

   A Stripper sem Script

    se incendeia

sob o sol do Mangue

 

   Assegure Sua Fartura

     no Carnê Futuro

  de Baby Doll

 

Aqui estamos nós

 enfim

João e Maria

feitos um para o outro

no acaso das calçadas:

neste banco nos beijamos

neste jardim nos devoramos

nesta rua nos deixaram

joão

 e maria

nos perdemos

 com a roupa do corpo

 com a casa nas costas

na floresta

 dos dias

(índios) e (indigentes)

atravessando as veredas da avenida

sob a paixão do sol.

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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— Financiamento e realização

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