Cantor (A Geraldo Vandré)

Renata Pallottini

Cantor (A Geraldo Vandré)

 

No ponto de não-retorno,

de muito choque, muito coice, muito soco,

de tanto andar pela terra dos outros,

 

a loucura é um ponto morto,

o ópio do corpo amadurece

as verdes uvas dos olhos do moço.

 

Gerado no mar e nas águas do povo,

arauto alto,

a solidão é um ponto de não-retorno.

 

Caminhando e cantando a voz quebrou-se aos poucos,

desorientando-se em américas dos loucos,

comendo e bebendo da chuva e das flores,

 

vadeando os riachos,

abrindo os braços,

no violão, no frevo, na cantiga

ou no vai-lá-pra-baixo,

diz          não ao rock

             não ao choque

             não ao golpe.

 

A solidão é um copo de mau rebordo.

 

Como cantou a missa em Saint-Germain,

como fumou e enevoou suas manhãs,

como povoou de sons o oco da maçã,

como tinha um suéter vermelho de lã,

está opaco, apático: apagou.

De tanto se queimar, se incinerou.

Agora vão tentar a interdição

                          por    muito louco

                                 muito moço

                                 muito poço.

 

Proibido de ser. Como cantar então?

 

Do centro de seu corpo o poeta tira o canto.

A quem o gume do asco toca o centro

não resta nada mais: só o silêncio.

 

 

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Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

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