Canto para renascer

Pedro Tierra

CANTO PARA RENASCER

 

 

 

 

Dá-me tuas mãos de ausência,                              Para Antônio

irmão,                                                    Benetazzo, assassinado.

desde a profunda escuridão

de tua dor, sepultada                                     "Sube a nacer conmigo,

por séculos de mentira.                                   hermano."

 

Pela palavra                                              Neruda

verso vazado,

espada de sol

e centelha ,

te resgatarei

do chão dos mortos.

 

Em minha boca

de clamores e silêncios

retomas nesta hora tardia

do tempo que te sucede,

a lenta substância dos rios.

 

Por teus próprios passos

retornas das cinzas

que a morte te impôs.

Rebelado e incorpóreo

visitas os depósitos murados

pelas baionetas do Tempo.

 

Sob os olhos engatilhados

dos fuzis,

recolhes entre os destroços

do sonho de Liberdade

que perseguias,

retalhos de esperança,

antigos relâmpagos

sem luz e sem urgência,

os sapatos desatados

de teus irmãos

de marcha e de massacre,

                 a dor,

o canto devorado

pelo silêncio dos quartéis,

essa intensa matéria-prima

de mel e fulgor

que nutre a vida humana

e a humana resistência.

 

E adivinho, com as pupilas gastas

pela voracidade dos refletores,

teu coração recobrando a surda força

dos vulcões e o sangue

- lava submetida -

voltando a fluir entre os ossos.

 

Do fundo deste rio

de palavra e agonia

que desatei,

vislumbro tuas mãos

pássaros renascidos

a recortar o espaço

em madeira e memória,

a convocar sobre a tela

do tempo que testemunhas,

a multidão inumerável

de violetas, gerânios,

rosas, ibiscos, jasmins,

o sangue breve dos cravos,

a cor profunda do barro

que a mão humana plantou,

a funda espera do Povo,

a marcha do Homem Novo

que o Homem Novo sonhou.

 

E martelo

um canto de força

que sobe do fundo,

da raiz dos homens,

um canto na praça

traçado na marcha

do Povo sem nome:

um canto para renascer.

 

Recolho teus passos.

As marcas deixadas,

no muro e no peito,

os dedos feridos,

as mãos, por fim,

recompostas

e te entrego ao Povo

com um verso de aço

e pungência:

Antônio Benetazzo,

o que amava a pintura

e foi assassinado,

o acendedor de meteoros,

contra a noite,

contra a morte

está entre nós e permanecerá!

 

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— Colofão

Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

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Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

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