O poema consta na seção "Não fosse isso e era menos. Não fosse tanto e era quase", de "Caprichos & relaxos". Tal seção é homônima e com os mesmos poemas do livro (ou talvez plaquete) lançado em 1980, em Curitiba, pela editora ZAP. No entanto, localizar no tempo a primeira publicação é sempre difícil, pois acaba se perdendo, sem falar que Paulo Leminski, em muitas ocasiões, solta seus poemas em cartas que se perdem, em cartões que não se enviam, em folhas soltas na relva ou em guardanapos guardados em pastas coloridas.
Comentário do pesquisador
O poema, desde o primeiro verso, inscreve-se em um debate metalinguístico, pois cansou da frase polida, associando tal forma de escrita a elementos como "anjos de cara pálida". O termo "anjos", não obstante possa ser irônico, está ligado também a um contexto religioso cristão, bem como étnico, posto serem pálidos. Avançando no texto, as "palmeiras batendo palmas / ao passarem paradas" é um centro de debate ligado aos Anos de Chumbo. Palmeiras são um elemento muito atrelado ao nacionalismo, não raro ao ufanismo, no Brasil, esta terra que tem palmeiras, embora também tenha Palmares e paradas militares. A sonoridade do texto, a essa altura, muito marcada pelo uso de consoantes oclusivas (feito /p/, /b/, /t/ e /d/), remete ao pisar das botas militares em suas marchas. Contra elas, Paulo Leminski quer a paulada (em referência ao seu próprio nome), a pedrada, a chuva de pedras palavras, enfim, textos e gestos que se posicionem contra as paradas que cansaram, as paradas que bateram.