CAMPO DE FLORES
À companheira Ana Maria Nacionovic, assassi-
nada em junho de 1972
Prossigo,
ainda que a presença do inimigo
a vigiar meus sapatos molhados,
na rua sem trânsito, me devolva
a impressão de ter regressado
aos primeiros dias de treva.
Prossigo,
apesar do pranto.
Apesar do medo e da sombra do inimigo
na soleira da porta.
Prossigo,
ainda que o rosto da menina morta
tinja de sangue o branco da camisa
e me falte amor na caminhada.
Prossigo,
embora hoje eu não encontre
um campo de flores
onde repousar o corpo de minha amada.
Prossigo,
apesar do ódio, da lama,
embora a presença do inimigo
me devolva
a impressão de ter regressado
aos primeiros dias de treva.
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