UMA VOZ
Calabar mora no túmulo
secreto dos guerrilheiros.
Mora na cova escondida
dos que morreram querendo
mudar a ordem do mundo.
Seus restos esquartejados
estão dispersos na vala
dos desaparecidos
que, embora pertençam à morte,
ainda pertencem à vida,
vivos enterrados
enterrados vivos.
Calabar mora no sol
que ilumina a flor de açúcar.
Mora na chuva de vento
na luz cega do farol
no cajueiro florido
no caminho percorrido
pelo peregrino.
Calabar mora na terra
dos que não têm terra nenhuma.
E seu cavalo salta
a cerca de arame farpado
que divide o mundo.