Breve elegia ao Pandit Nehru
Uma pequena rosa para aquele que gostava de trazer um botão de
rosa ao peito. Para aquele que trazia uma rosa no coração, aberta a
generosos ventos. Uma pequena rosa.
Um pensamento belo para aquele que só entendia a vida quando ins-
pirada por um sopro de beleza. Para que assim também se entenda a
morte, um pensamento belo.
Uma luz para aquele homem de cristal que brilhava entre os es-
maltes verdes e azuis dos jardins. Que parava, afetuoso, diante dos
lótus amados, no seu mundo de água. Uma clara luz.
Um silêncio para o herói de tantas batalhas, nos combates da Liber-
dade. Um silêncio para o que tornou próximo de todos o seu país
distante, e amado por todos o seu povo mal conhecido. Um silêncio
para o herói que se foi reunir aos outros heróis da Índia; pois este é
o momento dos grandes encontros, da ressurreição, da permanên-
cia. E esta é uma assembleia imortal. Um silêncio.
Uma pequena rosa. Um pensamento belo. Uma luz. Um silêncio.
Uma coroa para a alma do Pandit Nehru.
28, maio, 1964
Comentário do pesquisador
Jawaharlal Nehru, conhecido como Pandit (Professor) Nehru é um socialista que ocupou o cargo de primeiro ministro da Índia de 1947 a 1964. Reconhecido como um sucessor de Mahatma Gandhi, participou do movimento indiano para que o país se tornasse livre da colonização inglesa. No poema de Cecília Meireles, logo no começo, e depois novamente, há referência à rosa (um símbolo do socialismo) que Nehru traz no peito, o que de fato é recorrente até mesmo em fotografias tiradas desse político indiano de esquerda. Além disso, a poeta brasileira reconhece no texto os “combates da Liberdade” enfrentados pelo militante, de modo que, considerando o poema como posterior ao Golpe de 1964, a escolha de tecer uma elegia a um libertário dialoga com a situação política brasileira. Datado em “28, maio, 1964”, o texto é, provavelmente, escrito um dia após o falecimento de Nehru e cerca de dois meses após o Golpe Militar.