BOTINA/ROTINA
No Recife,
entre a caridade e o ódio,
estou cercado de mendigos,
que pedem dinheiro,
cigarros,
e insistem para
vender-me amendoim,
bugigangas, destroços,
engraxar-me os sapatos,
enquanto espero
neste bar,
um amigo, um banqueiro,
uma revolução,
para (também)
mendigar.
Comentário do pesquisador
O poema consta no repositório por fazer referência à desigualdade social e também por sugerir uma possível crítica/ironia ao fracasso dos regimes socialistas e comunistas implementados em algumas regiões durante as décadas de 60 e 70 (como se nota nos versos nos quais o eu-lírico afirma esperar uma revolução - para também mendigar). Tudo isso pode ser indícios de que o poema tenha sido escrito antes de 1986, conforme o escopo do repositório.