Bilhete ao meu Melhor amigo
(A Pier Paolo Pasolini, in memoriam)
ontem
os passos da covardia
correram atrás de teu corpo
e um grito sem eco correu pela
noite
tua voz não foi ouvida
eu dormia
ontem
os gestos da violência
agarraram tua alma
tua sensibilidade
quiseram tirar da tua pureza um galho
folha talvez
para o enxerto de que careciam
quiseram roubar o maior do grande que existe em ti
ontem
debaixo de minha janela
tu gritaste meu nome
feriram tua beleza
e teu corpo por teus orifícios verteu
água doce água salgada água suada
tu gritaste meu nome
eu dormia
tu gritaste meu nome eu cansado fazia
no leito a pausa forçada
meu amigo
estenda-me tua mão
estou desperto
vamos juntos e sós
apunhalar a escuridão
cuspir na violência
perguntar por que a noite é escura e esconde o mal
vamos jogar no rosto dos covardes o excremento decomposto
que um cão esqueceu na rua
Olney Krüse