Avaliação de uma relação construída no transcurso de uma pena que finda

Alex Polari

Avaliação de uma Relação Construída no Transcurso de

uma Pena que Finda

 

De você

eu gostei principalmente

do jeitão de mulher

sensualidade renitente

mesmo ao dizer uma bobagem

e uma coisa curtida

de vida mesmo

que o olhar escondia

enquanto o xale

abraçava aleatório

azuis dele próprio.

 

Um andar gingado de malandra

misturado com vestes de princesinha medieval

e uma beleza áspera

para ser pressentida

com muito contacto e silêncio

aprendizado de espera

sem muita pressa

tendo como alvo

não um detalhe

mas o corpo todo

do tom de voz

à elasticidade das coxas

tesão de violinos desembestados

rangendo melancólicos

em um telhado de vidro.

 

De você

eu gosto mesmo

da força que pinta

em algumas barras

e da fragilidade

em outros lances

que te faz aninhar em mim

— teu macho

com tal desplante passivo

que aos meus olhos

pareço um guerreiro maior

que na verdade sou.

 

Então você goza

puxa meu saco

me fita com esses olhos

tristes de mocho

próximo ao crepúsculo

e eu perdoo o ardil

mesmo quando percebo

mordo um pedaço do seu pescoço

voo numa bela frase que dissemos antes

arranho suas ancas

coço seu cabelo

te protejo dessas paredes

inimigos que não existem

mas de cuja fictícia realidade

eu nutro meu papel de homem.

 

De você eu gosto

tantas coisas, partes

sensações, locais concretos

principalmente os secretos,

loucos os quais só espreito

e você mal sabe.

 

Com você

eu nunca tive o direito

de tomar um reles café de boteco

ir ao cinema numa noite chuvosa

passar na roleta de um ônibus Gávea-Leme.

 

No entanto, temos um filho.

 

Com você

eu nunca deitei numa cama de casal

com lençóis acetinados, pijamas macios

ouvindo um disco de jazz em surdina,

deixando o tempo passar.

 

No entanto, amamos

gritamos gozamos

nos mordemos de mil formas diferentes

em cima de um velho colchonete de espuma

que eu estendo todos os dias de visita

e cubro com uma colcha verde encardida

cheio de furos de cigarro.

 

Nunca fui à sua casa

é você quem sempre

vem na minha.

Já nos magoamos seriamente um ao outro

uma vez e isso não prova nada.

 

 

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Coordenação

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

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