Autópsia
Corta-se a estranha: as extremidades são para os que
apontam como causa mortis das flores de plástico a
água poluída; corta-se a estranha: o coração é para os
que querem entender de amor e paixão, sem nunca ter
dissecado um corpo. Corta-se a estranha: as tripas e
os enxertos seguem aos museus das cidades, para virar
conservas. Corta-se a estranha: a cabeça é entregue ao
colecionador de troféus de guerra, para enfeitar a mais
ampla de suas salas-de-estar. Corta-se a estranha: a
coxa e o sexo são doados aos que pensam usá-lo, sem
reservas, só em noites especiais. Corta-se a estranha: o
que sobrar irá alimentar famintos, na engorda de bois
castrados.