Ausência da poesia

Adélia Prado

AUSÊNCIA DA POESIA

 

Aquele que me fez me tirou da abastança,
há quarenta dias me oprime no deserto.
O político morreu, coitado.
Quis ser presidente e não foi.
Meu pai queria comer.
Minha mãe, peregrinar.
Eu quero a revolução mas antes quero um ritmo.
Ó Deus, meu filho me pede a bênção, eu dou.
Eu que sou mau.
Por que, para mim, nem mel de vespas?
Eu que disse na praça, expondo-me
— dançai maltrapilhos, vamos seguir o tambor,
o Reino é subjacente mas existe —,
não sei responder a este motivo:
‘as torres ficam mais eternas às duas horas da tarde’.
Vejo a mangueira contra a nuvem preta,
meu coração se aquece,
mais uma vez me iludo de que farei o poema.
Tudo que aprendeu no bandalho
a marafona convertida faz para o êxtase místico;
mesmo que a costureira chegue na porta da rua
chupando o pilão com a língua,
eu acho bonito.
Me tentam a beleza física, forma concreta de lábios,
sexo, telefone, cartas,
o desenho amargo da boca do Ecce Homo.
Ó Deus de Bilac, Abraão e Jacó,
esta hora cruel não passa?
Me tira desta areia, ó Espírito,
redime estas palavras do seu pó.
No país tropical grassa duro inverno.
Estou com meias, paletó e ânsias.

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— Colofão

Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

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Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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