Somos conduzidos para condenações,
porque à sanha dos ditadores
não bastam nossos sonhos triturados.
As penas não abalam nossas pernas.
Sabemos da solidariedade em terras planas
onde plantamos plátanos e planos.
Pequenina diante dos potentados,
tu te tornas mais bela e brilhante
e vais crescendo em altivez e rebeldia
como se a beleza não te fosse proibida.
Afogados em dor, suor e labaredas,
esquecendo a condição de mortos em férias,
nós mergulhamos nossos olhos nos olhos
e seguramos o sol para clarear a rua.
Através dos orifícios da viatura
pessoas desinformadas cruzam viadutos.
Passa a luminosidade no instante do edifício,
a cidade desconhece a nossa passagem.
Eu te entrego a minha ternura sufocada,
austera carícia de homem amordaçado,
a experiência difícil do silêncio.
E antes de nos sufocarem em celas separadas,
nossos sussurros, surpreendidos no futuro,
vão soletrando a sinfonia da liberdade.
Presídio Tiradentes (SP), 1972