[As paredes têm ouvidos]

Armando Freitas Filho

As paredes têm ouvidos

ainda

  recordam e guardam

as manchas, a impressão

dos gritos feito grades

do sangue salpicado

  das sombras

dos guardas

   ainda

não foram abertas

as janelas

   e pelas aberturas

rasgadas

o vento não passa

não sopra

o céu não corre livre

esvoaçante

em desfraldado azul

embora lá fora

é bom lembrar

noventa milhões em ação

cantaram

pra frente Brasil

pra não escutar

dos nossos corações

o susto-soluço-síncope

pois enquanto a bola

rolava

  fora das quatro linhas

o pau-de-arara cantava

comia o sarrafo, baixava a botina

e a cortina

sobre os Arquibaldos

os Geraldinos

   e todos juntos vamos

pra frente, pros porões

levados pelos Macários

aos pontapés, na ponta da bota

das galeras em festa

para as galés

e salve a seleção

salve-se quem puder

pois de repente

é aquela corrente

nos pés

parece que todo Brasil

deu a mão à palmatória

ligados todos nos fios, nos cabos

nos rádios, na Maricota

nos dedos-duros elétricos

na mesma emoção

e no mesmo tratamento de choque

tudo é um só coração

que bate, a todo pano

em pane, preso

entre as quatro paredes

do corpo, do quarto

sentado na cadeira do dragão

diante das tevês

o esquadrão de ouro da morte

toca a bola, manda bala

é bom no samba

é bom (principalmente) no couro

e se a Copa do Mundo

é nossa

  para sempre

como brasileiro

não há quem possa

se esquecer que fora do estádio

expulsa das arquibancadas

a torcida explodia

e vaiava

a dor de tantos gols contra

em silêncio.

 

 

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Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

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Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

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Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

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