Saúdo nesta manhã
o gorgulho que deteriora
o mais claro cereal.
Reservo os meus cumprimentos
à sóbria larva que não dormita
nas águas mais cristalinas.
E não regateio aplausos
à traça sem pressa que jamais
soletra o latim da vida.
Reverencio a barata
que, sob a noite pálida, corta
as roupas velhas do povo.
E diante da ratazana
que rói os pés da mesa do povo
eu me curvo, respeitoso:
isto equivale à passagem
do rei que rói até mesmo as lágrimas
e os sonhos dos cidadãos.
Cupim e formiga-branca,
a vós, vassalos de um reino obscuro,
minhas congratulações.
Aos insetos roedores,
às pragas que gastam planta e gado,
um palavra fraterna.
E felicito os esquilos
que roem as nozes da poesia
no úmido chão de Washington
e a lebre oculta na sebe
que, farejada por cães de caça,
quebra o sigilo do outono.
E apresento os meus respeitos
ao engenheiro da podridão,
o verme que come o homem.
Roei o vento e o palácio,
desfazei as podres estruturas,
mudai a face do mundo.
E que o térmite admirável,
no saco de milho ou na cornija,
corrija a omissão dos homens.