ANTEMANHÃ
O que tem de ser tem força.
Já que não posso antecipar o dia,
colho noturna a poesia.
Passarão fantasmas antes da alvorada,
mas há lucidez nas estrelas.
Descerão nuvens plúmbeas?
há uma chama nos olhos.
Preparo-me para o aniquilamento
ou a amarga sobrevivência.
Sei que há suavidades e repouso vindo,
a n anos-sombra destes cantos de galos pressurosos.
Na aleatória esperança de colhê-los,
atual, entanto, e doce é concebê-los.
E eis que já se pressente,
além dos horizontes que debalde se ameiam,
a madrugada arremetendo fria
— mas ardente —
nos subúrbios equívocos do dia.