Uma fonte que preferiu não se identificar relatou, certa vez, em um barzinho de Curitiba, depois de doses de cachaça e conversa fiada: a primeira versão desse poema leminskiano foi uma pichação realizada por Paulo Leminski em uma delegacia, segundos antes de dar no pé. Depois, entre outras versões, o mesmo poema apareceu no volume "Não fosse isso e era menos / Não fosse tanto e era quase", publicado, em Curitiba, pela ZAP, no ano de 1980. A edição de 1983, de "Caprichos & relaxos", da Brasiliense, por sua vez, localiza o poema na parte superior da página 91; ao passo que a edição de 2013, de "Toda poesia", da Companhia das Letras, coloca o mesmo texto na parte inferior da página 105. Essas alterações impactam na leitura do texto, nos versos que, cada vez, vão se tornando vizinhos na folha. Sem falar que o papel usado em cada edição é diferente, assim como são distintos os tipos de letra, os nanômetros de espaçamento e todo um rol de filigranas que amplificam a diversidade de composições do texto. Optar por uma leitura unívoca de Leminski, privilegiar uma fonte determinada, pode impactar em desconsiderar versões como as folhas soltas escritas pelo autor em barzinhos, as improváveis pichações picarescas e mesmo as vezes em que ele apenas falou os versos ao vento.
Comentário do pesquisador
O texto realiza uma paródia de um slogan da propaganda militar: "Brasil: ame-o ou deixe-o". Leminski, que era publicitário e se posicionou contra os abusos militares, realiza "ameixas / ame-as / ou deixe-as". De imediato, o uso de "ameixa", no lugar de "Brasil", permite mais jogos sonoros no texto, além de trazer algum humor, uma vez que se lembra de uma fruta, assim como há outros poemas ligados a alimentos na literatura de Leminski. No entanto, outros sentidos também são possíveis. Vale lembrar que "ameixa" é um termo utilizado na época para se referir às balas de armas de fogo, assim como, no Brasil contemporâneo, é utilizado o termo "azeitona" também para fazer referência às munições. Desse modo, uma das ironias do texto é lembrar que a propaganda militar deseja, no lugar de amar propriamente Brasil, um amor à Ditadura Militar, esse regime que enfia, goela abaixo da população, ameixas e azeitonas.