AINDA HEI
Ainda hei de habitar um lugar puro
— por enquanto moro no poema.
Um lugar sem chaves
(de porta, peito, cofre, teorema),
um lugar sem traves nem entraves,
um lugar sem portas, sem portões, sem portais
de separações, de iniciações, de solidões,
Ainda hei de habitar o meu lugar
— uma casa aberta frente ao mar,
uma casa à minha semelhança.
Ainda hei de morar no meu habitat,
num lugar sem mosquitos, nem moscas,
sem baratas, sem ratos, nem conspícuos
cidadãos, sem fariseus nem avestruzes,
nem berliques e berloques, magias de truz.
Ainda hei de encontrar uma ilha
sem donos de propriedades,
sem donos da verdade,
sem qualquer idólatra,
sem fanáticos do cifrão,
sem polícia, sem políticos,
sem torturas, sem prisão.
E se não existir tal lugar no mapa,
se não existir nenhuma tribo assim,
habitarei em mim.