ACALANTO
Não, irmão,
eu não posso te prometer
uma aurora para amanhã.
Talvez depois de amanhã,
ou mesmo, depois de depois,
se aplaque o temporal
Eu não posso te dizer
que é só um minuto,
ou mesmo um dia,
embora eu o quisesse muito.
Porque, mais vale a realidade
do que a frase vazia.
Sei que é difícil, irmão,
muito difícil mesmo.
Mas pense num dia claro
como uma coisa concreta,
muito viva e colorida.
E veja nesse lume,
trêmulo e pequenino
que abrigas no teu peito
o ante-sol dessa alvorada.
E durma, irmão,
e sonha profundamente
o sonho dos justos.
Cárcere do Corpo de Bombeiros do Recife, 1974