ACALANTO PARA UM MENINO CHAMADO PEDRO
Acorda, menino Pedro nascido
de uma jura de amor desfechada
contra os tribunais da opressão.
No banco dos réus dos tiranos
sentaram teu pai, e tua mãe
fez firme sua voz e disse:
— Mais juntos de hoje estaremos,
pois haveremos de ter um filho
que Pedro se chamará.
Contra ele, nem o ódio,
nem as grades prevalecerão.
E apesar dos tribunais e do terror,
das cadeias e da separação,
tu que eras apenas uma ideia
— uma pequena ideia sem armas —
te fizeste em coisa concreta.
Acorda, menino Pedro e aprende
o segredo de todas as coisas.
Aprende, por exemplo, que uma ideia,
— mesmo a mais proibida —
se justa e com ardor defendida,
pode em algo transformar-se,
tão real, concreto e vivo
como um menino chamado Pedro.
Fortaleza, 21/9/78