Abecedardo
abadia da adesão
no ágape da arma
babel de baba
do bacharel da balada
cone da cobiça
no comando da coleta
decano do dano
no dever da devassa
êmulo do empório
no edital do emprego
fábrica de fátuos
na facção dos fâmulos
gozo do gordo
na garupa da gana
hálito do hábil
na hasta da honra
idílio do idôneo
ao ídolo idoso
jato jaculatório
no jogo de judas
labor do latido
no lápis do lacaio
malta mineira
no mandado da marcha
néctar e narcótico
da nobreza do neutro
óbolo do ópio
ao ônus do opresso
parceria da pândega
no pasto da pátria
quisto de quasímodo
no quilombo do quartel
rábula do rebanho
na rapina da razão
sócio do salário
no sarau do sangue
talismã do tóxico
na técnica do tanque
uso de usufruto
do ungido ubíquo
virtude da vindita
no vômito da violência
xenomania do xerife
no xeque do xadrez
zelo do zebu
na zoada do zero
Comentário do pesquisador
O jogo entre o abc e o dardo, visto no texto, perpassa diversos aspectos políticos dos Anos de Chumbo. A relação entre igreja e política, "no ágape da arma"; dimensões jurídicas do "bacharel"; os impostos da "coleta"; a referência mais direta aos militares "no mandado da marcha"; a crítica ao "isentão" da época, "da nobreza do neutro"; a contextualização política nacional, "no pasto da pátria" e "no quilombo do quartel"; a relação entre os donos do poder político-ditatorial e econômico, "sócio do salário / no sarau do sangue"; a alusão aos abusos físicos do poder no "vômito da violência"; entre tantas outras dimensões possíveis de se observar.