A UM POETA COMBATENTE
Poeta, camarada meu, te trucidaram...
só tua cabeça, ironicamente, intacta ficou,
teus dedos, vinte, decepados
como também sob risos foram
teu pênis e testículos emasculados.
Nenhuma palavra de tua boca saiu
nada te arrancaram os verdugos
senão os órgãos fecundos, Emanuel
e os dedos que ao povo escreviam.
Tenho o consolo triste, porém, convicto
de tuas emulações proclamadas noutras bocas
de teus dedos escreverem por outras mãos
com teu sangue fértil ejaculado
nas emanações fervorosas de nosso povo
germinando novos filhos à luta
em suas formas várias encadeadas.
Palmo a palmo avançando à liberdade
até o dia em que nossos algozes
“heróis” do momento serão escória
com suas vilanias sobre nós lançadas
e os “terroristas” de hoje heróis
na história firmados.
E tu poeta anônimo do povo, erigido serás
menos pelos martírios sofridos
e mais, pelo que ao povo almejaste,
e se ao menos homenagear não te soube
folgo por teu nome lembrar, camarada
passageiro de tenebrosa noite de pelejas
aos inimigos comuns, concretos, objetivos
e o das dissenções à formação do Partido
do povo, à nossa terra aviltada.
Teu canto ainda ecoa poeta
dos teus “Pássaros Brancos” solífugos
arrojados sob portas proletárias,
com teu canto de guerra
de guerra para a paz.
Ao companheiro revolucionário e
poeta, Emanuel Bezerra, assassi-
nado sob torturas. No ensejo do
terceiro aniversário de seu de-
saparecimento.
Itamaracárcere, 04/09/76. Emil