À sua imagem e semelhança
A mentira passeia pela rua,
tranqüilo é o cão
de fino trato.
O que a torna tão segura
de si mesma
do mundo que articula com
tamanho fausto?
O que faz com que se volte sempre
sobre os próprios passos?
Reiterada cauda
como lembra a da rainha
quando a passeia — impávida —
nos ladrilhos.
O ladrido
não é o do cão
"Amigo fiel do homem"
É o do homem — próprio —
que não mais sabe
distinguir pela boca
o "áspero" do "pobre"
e esconde
a sua falta completa de dentes
atrás do provérbio:
"Cão que ladra não morde"
Na sua cauda que passeia como a língua
Na sobranceria única de rainha
a mentira inaugura tranqüila-
mente
o seu longo reinado sem desordem,
fazendo-o: ele, povo amado —
à sua imagem e semelhança:
"Com o rabo entre as pernas"