A paz

Maciel de Aguiar

              A PAZ

 

 

A paz oferece suas mãos 

aos tiranos que fogem em pânico 

pelas ruas apressadas
das cidades possuídas 

pela sede da tirania.
A paz oferece suas mãos trêmulas 

aos ditadores antropófagos 

que vomitam cólera
sobre as vítimas,
devoram as vísceras dos homens 

e se alimentam dos fetos
das mulheres extirpadas. 

A paz oferece suas mãos 

aos saqueadores da felicidade, 

que se escondem atrás da porta 

e morrem de medo das flores 

que brotam em cada jardim. 

A paz oferece suas mãos
aos senhores donos do mundo, 

que fecham as portas 

intransponíveis dos impérios, 

escondendo-se da Justiça
e fogem da Lei,
como quem não quer perder os domínios. 

A paz oferece suas mãos
aos torturadores de todos os cárceres,
que apoderam-se das unhas
das vítimas indefesas
enfiando-lhes alfinetes
nos sabugos enquanto se extasiam
diante da dor infame.
A paz oferece suas mãos 

aos sistemas desumanos, 

que rejeitam a tentativa 

da felicidade para todos, 

que apostam nas guerras 

como forma de enriquecimento 

e investem nos conflitos 

entre pessoas 

e nações
como meio de sobrevivência.

A paz oferece suas mãos 

aos exploradores dos povos, 

que descartam a possibilidade 

do direito supremo à vida 

e criam o terror oficial
contra a voluntariedade dos jovens

que habitam as faces da terra.

A paz oferece suas mãos 

aos regimes tiranos do mundo, 

que procuram os rebelados 

pelos esconderijos das cidades 

alimentando a ira
assassina que se apodera 

e açoita os desprovidos 

para os quintos dos infernos, 

como quem afugenta os cães. 

A paz oferece suas mãos 

aos torturadores encapuzados, 

que afiam as garras, 

lubrificam os alicates,
molham as toalhas,
desenrolam os fios, 

preparam o pau-de-arara 

e convidam os generais 

para o banquete das carnes 

que encontram a desgraça 

em seu tempo de abandono. 

A paz oferece suas mãos
aos que procuram a luz ínfima
no fim do longo túnel,
os que se agarram às esperanças 

e se juntam aos miseráveis
para a libertação dos condenados 

sem julgamento,
sem culpa, 

sem crime, 

sem direito à sepultura.
A paz oferece sua bandeira 

como a alvura do leite
a todos os cidadãos do mundo.
E eu ofereço à paz
esta canção impossível
de ser cantada nas ruas.


                        Ponte Nova-MG, 18.6.70

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Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

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Francielle Villaça (Mestranda UFES)

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