A MOEDA ENFERRUJADA
Esta moeda não vale mais nada.
Não adiantou tê-la guardado durante tantos anos, escondendo-a da marcha das constelações e do avanço da hera que cobriu o muro de pedra.
No silêncio, ela não prosperou.
O vento da noite entrou pelas frinchas das portas, janelas e telhas quebradas e ofendeu a efígie de César.
A ferrugem enegreceu as armas do Estado.
Os que mandaram cunhá-la morreram longe do povo em mansões indevassáveis
e mesmo depois de mortos tiveram direito a uma guarda de segurança
que os protegesse do clamor insensato.
O tempo não multiplica o que o homem
contra o homem subtrai.
Na boca silenciada, o sangue permanece vivo
e escorre para sempre da efígie
que nenhuma ferrugem haverá de cobrir.