A mão direita
A mão direita pertence
a Deus, seu manejo fácil
em ordem natural e
grácil.
A mão direita pertence
ao amor, sua pesquisa,
alegria ociosa que
divisa.
A mão direita pertence
ao chefe com a bandeira
da hora com a rubrica de
primeira.
A mão direita pertence
à pedra que partira
talhada para alguma
mira.
A mão direita pertence
ao contorno que cria
no branco o sangue na
grafia.
A mão direita pertence
ao perdão, ensombro tosco
com que da névoa surge
um rosto.
A mão direita pertence
à esquerda, em astuta
liga falange a falange
— e é a luta.
Comentário do pesquisador
Desde a Revolução Francesa, o debate sobre direita e esquerda é uma tópica importante em política e em literatura, de modo que "A mão direita" – para além de conotações religiosas que também estão ligadas a ela – assume uma dimensão política forte, indicando uma espécie de lado conservador da ação política. "A mão direita", nesse sentido e perpassando os Anos de Chumbo, está vinculada, entre outras questões, à própria Ditadura Militar e às suas bases sociais, havendo, no poema, uma reflexão sobre tal espectro político-social.