A GRANDE ENCHENTE
Cadáveres de Ofélias e cadelas mortas
virão parar por um instante às nossas portas.
Porém —— sempre à mercê dos redemoinhos ——
prosseguirão depois seus incertos caminhos…
Quando a água alcançar as mais altas janelas
eu pintarei rosas de fogo em nossas faces amarelas.
Que importa o que há de vir? Tudo é poupado aos
loucos
e os loucos tudo se permitem. Vamos!
Espíritos de deuses, sobre as águas pairamos.
Alguns de nós dizem que apenas somos nuvens…
Outros, uns poucos,
dizem que somos nada mais que mortos…
Mas não avisto, lá embaixo, os nossos próprios
defuntos… E em vão, também, olho em redor…
Onde é que estão vocês,
amigos, amigas, dos primeiros e dos últimos dias?
É preciso, é preciso, é preciso continuarmos juntos!
E, então, num último, e diluído, e triste pensamento
eu sinto que o meu grito é só a voz do vento…