A continuação do adeus e outras palavras
A continuação do adeus e outras palavras
Relembro
A tristeza interior das cadeiras discretas,
Os trâmites da dor pelos cartórios,
Os temas da lágrima todos resgatados.
Vejo o mesmo sol. Abro uma gaveta
Eis o frio contrato, o último
aceno do homem sem palavras que eras
(caímos no papel como pedras
e só os anjos nos soletrarão).
Do fundo do epitáfio inútil
Nasce como ervas a continuação do adeus
E outras palavras, as mais ternas,
Como as tuas mãos esvoaçando cautelosas
Na livraria escura e baixa.
Vejo os teus olhos desprotegidos e angustiados
E a tua última palavra, exausta
Guardo no sangue.
Nela me imunizo entre flores murchas e cotidianas.
Comentário do pesquisador
O livro "H'era", de 1972, apresenta Max Martins com menos referências explícitas à Ditadura Militar. Nesse poema "A continuação do adeus e outras palavras" é possível observar alguns campos semânticos que aproximam o texto e debates ligados aos Anos de Chumbo, a exemplo de questões como "Os trâmites da dor pelos cartórios" e "Guardo no sangue", ainda que, em alguma medida, noções como o lirismo amoroso e o contexto político possam ser vistos sobrepostos.