As visitas se foram
e nós ficamos meio banzos
tentando prolongar suas presenças
no tempo da ausência.
Estão vendo
aquela casinha verde,
no topo do morro do São Carlos?
Provoquei, sem resposta.
Em silêncio,
rememorei a sua imagem cheia de graça
e guardei minha última lágrima
para chorar na cela.
Comentário do pesquisador
O poema “A casinha no Morro do São Carlos” integra o volume “Poemas (quebrados) do cárcere”, publicado por Gilney Amorim Viana em 2011. Na “apresentação do autor”, o poeta afirma: “Estes raros e quebrados poemas foram escritos na década passada, quando estive encarcerado pela ditadura militar. Acredito que refletem minhas afetividades, dúvidas existenciais, certezas políticas e ideológicas vividas naquele período” (2011, p. 9). Sobre a primeira parte do livro, na qual está inserido “A casinha no Morro do São Carlos”, Gilney Viana informa: “Os primeiros poemas correspondem aos últimos anos de prisão (1977-1979), no Presídio Político do Rio de Janeiro, situado no complexo penitenciário da Rua Frei Caneca. A conjuntura política estava em mutação, o regime militar dava sinais de esgotamento, tanto no domínio econômico quanto no domínio político. Cresciam as manifestações sociais e políticas contra o regime, tornando inevitável a transição à democracia representativa. Clima de abertura política que envolvia a sociedade e, remotamente, o submundo das prisões. Reclusos, discriminados como terroristas, nós, presos políticos com condenações de longa duração, tentávamos nos fazer ouvir. E, pela primeira vez, ousamos pensar em liberdade, com ou sem Anistia, mas com dignidade humana e política” (211, p. 9).