A casa do jornal, antiga e nova

Carlos Drummond de Andrade

A CASA DO JORNAL,

ANTIGA E NOVA

 

 

Rotativa

do acontecimento.

Vida fluindo

pelos cilindros,

rolando

em cada bobina,

rodando

em cada notícia.

No branco da página

explode.

Todo jornal

é explosão.

 

Café matinal

de fatos

almoço do mundo

jantar do caos:

radiofoto.

 

Reestruturaram-se os cacos

do cosmo

em diagramação

geométrica

 

A cada méson

de microvida

contido

na instantaneidade do segundo,

a vibração eletrônica

da palavra-imagem

compõe

 decompõe

recompõe

o espelho de viver

para servir

na bandeja de signos

a universalidade

do dia.

A casa da notícia

com degraus de mármore

e elevador belle époque

alçada em torre

e sirena

chama os homens

a compartir

o novo

placar nervoso

dos telegramas.

Olha a guerra,

olha o reide,

olha o craque da Bolsa,

olha o crime, olha a miss,

o traspasse do Papa,

o novo cisne plúmbeo

do Campo de Santana.

 

Fato e repórter

unidos

re-unidos

num só corpo de pressa

transformam-se em papel

no edifício-máquina

da maior avenida,

devolvendo ao tempo

o testemunho do tempo.

 

Na superfície impressa

ficam as pegadas

da marcha contínua:

letra recortada

pela fina lâmina

do copydesk;

foto falante

de incrível fotógrafo

(onde colocado:

na nuvem? na mente

do Presidente?);

libertário humor

da caricatura

de Raul e Luís

a —— 50 anos depois ——

Lan e Ziraldo

Paiol de informação

repleto, a render-se

dia e noite

à fome sem paz

dos linotipos,

casa entre terremotos

óperas, campeonatos

revoluções

plantão de farmácias

dividendos, hidrelétricas

pequeninos classificados

de carências urgentes,

casa de paredes de acontecer

chão de pesquisa

teto de detetar

pátria do telex infatigável

casa que não dorme

ouvido afiado atento

ao murmulho mínimo

do que vai, do que pode

quem sabe? acontecer

 

Um dia

a casa ganha nova dimensão

nova face

sentimento novo

diversa de si mesma

e continuante

pousa no futuro

navio

locomotiva

jato

sobre as águas, os caminhos

os projetos

brasileiros

usina central de notícias

cravada na estrela dos rumos

N S L O

em cobertura total

da vida total:

conhecimento

comunicação.

Todo jornal

há de ser explosão

de amor feito lucidez

a serviço pacífico

do ser.

 

 

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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— Financiamento e realização

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