5 [fragmento do poema "Estrelas"]

Domingos Pellegrini

5     Brasil, maio 27, mil novecentos e 72.

 Amigo:

 

  Aqui os passarinhos

 quase suicidam de tanto cantar.

 Pintores anêmicos vão esparramando

 as cores mais sonolentas no poente.

 

 Quando a gente levanta é preciso sempre

 sacudir a decisão que continuou deitada.

 

 Uns dizem agora é tarde, uns dizem ainda é cedo.

 Nos livros sempre se acham flores negras.

 E há um geral otimismo de que tudo vai piorar.

 

 Em certas paradas horas a gente que aqui ficou

 sente o sentimento oco de quem não está em casa.

 Há pingüins que exilam derretendo em icebergs

 e pingüins que exilam sem sair de casa

    num refrigerador.

 

 Desesperados estalam ibiscos

 as samambaias crescem furiosamente

 com essa chuva, amigo, esse calor.

 

 A natureza não tem moral nenhuma.

 As raízes bebem chuvas, puxam flores

 ignorantes do inverno que curtimos,

 dias curtos, noites

 mais e mais compridas, quintais e mapas de sombra,

 cogumelos, homens trocando silêncio

 por mordaças, trançando palha,

 o medo preso na grade das costelas.

 

 Onde foi que erramos, onde?

    e classicamente

    o eco responde.

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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