O livro “17 peças”, de 1975, está ligado a tradições da poesia visual, a exemplo de movimentos como o Concretismo e o Neoconcretismo. Nessa obra, alguns poemas expressam noções como o vazio da página e o silêncio, não raro havendo, no dizer o silêncio, um modo de dizer silenciamentos, opressões, ou ainda, metaforicamente, censuras. Em “2. Lírica”, a segunda das dezessete peças reunidas no livro, há duas páginas criando, entre si, jogos de espelhamento. Na primeira delas, no centro, uma placa indicando que é proibido fazer barulho, é proibido buzinar e, no canto inferior direito, a informação de “área de silêncio”; na segunda página, mais em branco, sem a buzina ou qualquer informação centralizada, apenas uma expressão, no canto inferior direito, e que se poderia talvez chamar de verso, indicando “ária de silêncio”. “Ária”, em termos musicais, corresponde a uma peça para uma só voz, notadamente uma peça lírica. Assim, no poema sonoro-visual, silencioso-visual, o eu poético canta o silêncio (a sua fala proibida? censurada?). Levando em conta o contexto histórico de produção, em particular os Anos de Chumbo, o silêncio do sujeito é, em certo viés interpretativo, um modo de dizer os silenciamentos.
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— Financiamento e realização
Projeto de pesquisa que visa criar um repositório de poemas brasileiros que retrate a vida no país durante a ditadura militar, contando com pesquisadores de várias instituições e estados, aberto à colaboração de leitores e estudiosos para sugerir poemas a integrar o levantamento
Comentário do pesquisador
O livro “17 peças”, de 1975, está ligado a tradições da poesia visual, a exemplo de movimentos como o Concretismo e o Neoconcretismo. Nessa obra, alguns poemas expressam noções como o vazio da página e o silêncio, não raro havendo, no dizer o silêncio, um modo de dizer silenciamentos, opressões, ou ainda, metaforicamente, censuras. Em “2. Lírica”, a segunda das dezessete peças reunidas no livro, há duas páginas criando, entre si, jogos de espelhamento. Na primeira delas, no centro, uma placa indicando que é proibido fazer barulho, é proibido buzinar e, no canto inferior direito, a informação de “área de silêncio”; na segunda página, mais em branco, sem a buzina ou qualquer informação centralizada, apenas uma expressão, no canto inferior direito, e que se poderia talvez chamar de verso, indicando “ária de silêncio”. “Ária”, em termos musicais, corresponde a uma peça para uma só voz, notadamente uma peça lírica. Assim, no poema sonoro-visual, silencioso-visual, o eu poético canta o silêncio (a sua fala proibida? censurada?). Levando em conta o contexto histórico de produção, em particular os Anos de Chumbo, o silêncio do sujeito é, em certo viés interpretativo, um modo de dizer os silenciamentos.