BRASIL 500
Quando olho flagelados retirantes
Nas cidades e nas brenhas do sertão
Humilhados mendigando como antes...
"Cesta — básica" e "Cheque — cidadão"
É o pobre pendurado na embira
Mastigando barbatana de traíra
Bebe vinho ri no circo come pão
(come pão)
Vegetando na rotina da mentira...
Os paisanos pedem paz e segurança
Militares bebem canja de galinha
O bandido por maldade ou vingança
Bem armado pede guerra que já tinha
Oprimidos trocam votos por cachaça
Governante com dinheiro faz mordaça
Sufocando liderança do povão
(do pavão)
A mudança do sistema que se faça...
Que se faça sem espada nem canhão
Que o tanque se transforme em trator
E as balas em caroços de feijão
As palavras em sementes de amor
O martelo da justiça nunca erre
Que a máquina do tempo não emperre
Digitando... sendo só computador
(computador)
Num Brasil 500 com ponto br!
Fico triste quando vejo num sorriso
A careta duma boca desdentada
Quando entro num barraco olho piso
Sendo berço da criança desprezada
Quando vejo 100% dos salários
Sendo pagos pelas mãos dos operários
Pelo preço duma casa alugada (alugada)
Sem dinheiro vão rifando seus rosários..
Fico triste quando vejo na imprensa
Nação forte provocando novas guerras
Os vencidos excluídos pela crença
Pingam sangue nas pegadas pelas terras
Pondo corpos mutilados nos buracos
Não têm aves nas queimadas nem macacos
Não tem verde nos planaltos nem nas serras
Nem socorro no gemido dos mais fracos..
Quando olho por debaixo de jornais
Ali vejo cochilando um mendigo
Com as fotos protegendo genitais
As manchetes lhe servindo de abrigo
Cão de rico suja praia tem filé
Gente pobre chupa osso asa pé
Da justiça por ser cara nada digo ( nada digo)
A pobreza por ser fraca virá ré...
Fico triste quando olho a miséria
Refletida no vazio da panela
Na magreza retrocesso da matéria
Na tristeza dos sapatos na janela
Nos festejos do Menino de Belém
A criança quer presente que não vem
Enxugar mais um soluço na goela (na goela)
E os dólares do Fundo vão pra quem?
Fico triste quando olho pro espaço
E não vejo passarinhos flutuando
E também na violência de um braço
Motosserra uma árvore cortando
Me revolto quando vejo animais
Enjaulados numa selva de metais
Não podendo libertá-los vou chorando (vou chorando)
Ó meu Deus onipresente onde estais?
Fico triste quando vejo Amazônia
Mais queimdada que bandeiras em Moscou
Estrangeiro controlar sem cerimônia
O quinhão que meu País privatizou
Patriota na penumbra tateando
Com lanterna de carvão vai procurando
Para ver se algum homem escapou (escapou)
No Brasil 500 anos festejando... FIM